“A árvore”, figura recorrente na obra de Llansol, é o título do poema de Pierre Louÿs, traduzido pela autora em “O sexo de ler de Bilitis” (Lisboa: Relógio D’Agua, 2010). Para acompanhar o poema, a bela imagem da artista brasileira Cláudia Renault que, como Llansol, sempre soube que “é vital conhecer a paisagem”.
A Árvore
Tornei-me nua para subir à árvore; o íntimo das pernas
enlaçava-se nu na sua casca polida e úmida;
as minhas sandálias caminhavam pelos ramos.
No alto da copa, mas protegida do calor pela sombra da folhagem,
pus-me a cavalo num ramo extreme, a balouçar do alto
meus pés sobre o vazio.
Havia chovido. Ainda gotas de água se desprendiam
e corriam-me pela pele. Tinha as mãos sujas de musgo,
e os dedos dos pés manchados com o suco escarlate
das flores pisadas.
A brisa caminhava pela sua folhagem viva; eu sentia-a pulsar e
estreitei ainda mais o íntimo das pernas
enquanto meus lábios abertos passavam os dedos pelas mechas
dos seus ramos.
(Pierre Louÿs – 1860-1925)